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Novo Poder: passabilidade, Miss Brasil

ocupando palácios, museus e galerias.

 

Em 2019, Maxwell Alexandre realizou sua primeira exposição em um museu, o MAC Lyon - Museu de Arte Contemporânea de Lyon, na França. Pardo é Papel, título da mostra, também marcou seu primeiro show internacional.

 

Maxwell morou no próprio museu durante um mês, em um quarto localizado no último andar. Durante os dias em que passou ali, o artista transformou em ateliê um dos grandes salões de exibição, onde planejou e desenhou uma expografia composta por dezessete painéis monumentais que seguiam, em sua maior parte, a medida padrão das bandeiras da série - 320 x 480 cm. Pintadas sobre folhas de papel pardo, as obras foram suspensas por cabos presos ao teto. 

 

Durante sua estadia, Maxwell criou ali mesmo três trabalhos novos para a exposição. Um deles dava origem ao título Novo Poder e media 400 x 960 cm, mais que o dobro do tamanho da bandeira padrão da série Pardo é Papel, tornando-se destaque na exposição. As outras duas, apesar de não terem o mesmo título, foram desenvolvidas a partir da mesma temática. Com o sucesso do show, Pardo é Papel tornou-se uma exposição itinerante, viajando por diferentes países e cidades. As três obras criadas durante a residência do artista passaram a fazer parte da coleção do museu. A partir dessa aquisição, Maxwell precisou criar pelo menos mais um novo trabalho da série Novo Poder para incorporar à itinerância de Pardo é Papel, pois a ideia do artista era apresentar, gradualmente, como um prólogo, a nova série ao público, dentro da exposição de Pardo é Papel, cujo sucesso já estava garantido. Contudo, o lançamento oficial da série Novo Poder aconteceu somente dois anos depois, no segundo semestre de 2021, na exposição individual de Maxwell no Palais de Tokyo, outra instituição francesa, em Paris. Além de ocupar uma grande sala no renomado espaço francês, a série também foi lançada nas duas sedes da galeria brasileira A Gentil Carioca, simultaneamente no Rio de Janeiro e em São Paulo. A divisão estratégica do lançamento de Novo Poder, além de proporcionar mais espaço para a extensa produção sobre o tema, também serviu para diminuir a concentração e o trânsito internacional de visitas durante o período instável causado pela pandemia da COVID-19. Diluir a audiência do show pelos três espaços foi, ainda que de forma poética, uma maneira que o artista encontrou para lidar com as diretrizes de não aglomeração imposta pela crise sanitária global.

 

Pardo é Papel

 

A série Pardo é Papel é um marco na carreira de Maxwell Alexandre, permanecendo como a mais conhecida dentre suas séries. Prosperidade, autoestima, vitória, marra e farra são alguns dos assuntos principais abordados pelo artista, que trata, por meio da  pintura, as formas mais materiais e terrenas de poder e acesso: roupas de grife, carros, jóias, comida, festas. Além da importância que a série dá a essa materialidade, ela também enaltece personalidades famosas, amigos e familiares, ao mesmo tempo que ilustra carreiras que definiram o avanço de pessoas pretas no Brasil – como na música e no futebol. A cultura da ostentação, por ser uma simbologia de poder muito presente na sonoridade do funk e do rap, incita recorrentemente a imaginação nas periferias, e também é um eixo central em Pardo é Papel.

 

Para tratar a diversidade dos temas que a série desenha, Maxwell introduz o conceito de Pintura-Mãe: um painel de grandes proporções que aborda, normalmente, um único tema, tratado no mesmo quadro por perspectivas e tempos diferentes, resultando em uma composição visual densa que cruza vários argumentos para mapear um mesmo assunto. As Pinturas-Mãe funcionam como cartografias para o artista registrar um todo, e então, mais tarde, poder se debruçar sobre um desses argumentos anotados, explorando cada perspectiva com minúcia e aprofundando-se em seus universos específicos.

 

A série Novo Poder surge como um desdobramento de Pardo é Papel. Nela, o tema da prosperidade, antes tratado por objetos e situações mundanas, é elevado a níveis mais subjetivos, com o foco voltado para um tema singular: o circuito da arte contemporânea. Na série, Maxwell começa explorando a ideia da comunidade preta dentro dos templos consagrados de contemplação da arte: galerias, museus, centros culturais e fundações. Para isso, ele dá ênfase a três signos básicos: as cores preta, branca e parda. A cor preta atua como o corpo preto manifestado pela figuração de personagens; a cor branca aponta para o cubo branco espelhando o espaço expositivo; e a cor parda representa a obra de arte e também faz autorreferência ao próprio papel usado como suporte principal da série. 

 

O suporte, a estrutura e o formato permanecem os mesmos, mas as composições são mais parcimoniosas e, por isso, o conceito de Pintura-Mãe foi poucas vezes utilizado em Novo Poder. A estrutura monumental de papel nesta série é utilizada para intensificar a presença do objeto de arte, por meio de grandes retângulos pardos. Essas geometrias são recortadas pela tinta branca, destacando a cor forte amarelada do papel e sua escala frente à figuração dos personagens no quadro, nos levando a lembrar diretamente dos grandes painéis de Pardo é Papel, tornando Novo Poder, em algum nível, uma ilustração da primeira série. Pardo é Papel está contida em Novo Poder e vice-versa, já que foi por meio das primeiras exposições de Pardo é Papel que Maxwell testemunhou o cubo branco ser excepcionalmente tomado pela presença massiva de pessoas pretas. 

 

Quer dizer, ao passo que Pardo é Papel mapeava a arte como uma profissão possível, apontando para o futuro da série Novo Poder como uma profecia, essa visão se fazia concreta no ato, ao ter a favela presente em suas vernissages, olhando pinturas monumentais onde o sujeito negro era o centro. “Muitos dos visitantes de minhas exposições estavam pela primeira vez num ambiente de arte contemporânea, contemplando as obras das quais agora faziam parte, quer dizer, retratados em pinturas, sentiam-se orgulhosos e valorizados”, afirma Maxwell.

Novo Poder

 

Em seu cerne, Novo Poder transcende as situações mundanas e os objetos de valor que em Pardo é Papel servem para simbolizar o privilégio e o acesso de um mundo predominantemente capitalista. Na profecia da série, as obras apontam para a arte contemporânea como o ápice da cultura, a elevação do espírito. Apesar deste circuito se dar em favor dos ricos, a série se alimenta do entendimento de que a apreciação e o consumo da arte são capitais que podem se sobrepor ao poder financeiro, sendo estes valores intelectuais e simbólicos.

 

Maxwell Alexandre enfatiza que, nas periferias, a arte é tratada como algo supérfluo. Segundo ele, isso é resultado de um processo programado de distinção social e, por isso, os valores da arte contemporânea são altamente codificados e restritos a uma elite cultural. “Somente aqueles que não precisam se preocupar com a fome da carne e outras necessidades básicas é que podem se dar o luxo de contemplar uma pintura monocromática branca, quer dizer, uma pintura abstrata”, afirma Maxwell, que insiste que a verdadeira qualidade de vida está intrinsecamente ligada ao ócio, à vadiagem, à contemplação e à não finalidade prática das coisas. A busca pelo gozo estético e experiência transcendental do sublime e da filosofia atendem ao espírito, reivindicar e conquistar essa experiência constitui, para o artista, a verdadeira abundância.

 

A arte é o território onde as narrativas da humanidade são geradas e, por consequência, suas instituições servem como mecanismo de legitimação e preservação dessas histórias. Ao colocar luz sobre esse sistema, Novo Poder tenta chamar a atenção daqueles cujas histórias muitas vezes carecem de salvaguarda. Para Maxwell, a apropriação dessa estrutura estabelecida pelo circuito da arte é a estratégia de tomada de poder mais interessante a longo prazo. 

 

Além de todos os cinismos, críticas e apontamentos feitos pela série, seu presságio acaba refletindo no presente como um autorretrato, relatando a trajetória do próprio artista, desde a ascensão profissional até a conquista financeira e social, por meio da arte contemporânea, fazendo parte da narrativa excepcional de um menino preto vindo da favela. “Olhei em volta e me vi envolvido em um mundo dominado quase exclusivamente por brancos. A série é um estudo e mapeamento das contradições, armadilhas e oportunidades desse campo para que mais pessoas pretas possam se infiltrar, não só como espectadores ou objetos das obras, mas enquanto agentes em posições de poder: curadores, artistas, colecionadores, diretores, financiadores, galeristas etc”, diz o artista. 

Novo poder: passabilidade
 

A série Novo Poder, como todas criadas por Maxwell Alexandre, permanece viva e seus desdobramentos acontecem organicamente. No entanto, é em Novo Poder: passabilidade que seu próximo momento é oficializado. Nele, o artista enfatiza a passagem de pessoas pretas pelo cubo branco de forma literal, definindo, assim, o conceito de ‘passabilidade’: a caminhada segura e tranquila nos espaços expositivos de arte contemporânea. 

 

Maxwell propõe, por meio de seus personagens pretos, belos e elegantes, uma caminhada firme, confiante e estilosa como os catwalks da passarela, em um desfile de moda. Para essa proposta, o artista faz um cruzamento entre o campo da arte e da moda, denotando-os como plataformas de influência, que conferem autoestima e dignidade ao sujeito. O artista aponta a moda como um correlato da arte, atuando também como uma ferramenta de distinção social, mantendo o lugar de exclusividade de certas castas sociais. “Entrar no Louvre ou na Louis Vuitton é a mesma coisa. Existe um sentimento muito parecido de não pertencimento ao entrar em um museu ou numa joalheria e loja de grife, seja pelos códigos desses ambientes ou, normalmente, pela posição financeira prejudicada de pessoas pretas ou de periferias”, diz. Contrapondo essa exclusão, em passabilidade, algumas figuras adotam tais códigos, evidenciando uma mudança na abordagem da marra, agora mais blasé, fazendo, assim, um paralelo entre a ostentação e esse comportamento mais comum a esses espaços.

 

Beleza e sensibilidade são atributos raramente associados a pessoas pretas. A moda e a arte são dois pilares que ajudaram, durante a história, a sustentar essa desassociação. Tais barreiras coloniais encontram, nas narrativas de Novo Poder: passabilidade, a subversão ao retratar figuras bem vestidas e cultas, da grife à filosofia, da passarela ao museu; as duas instâncias máximas da moda e da arte.

 

Passabilidade ganhou seu destaque inicial na primeira exposição individual de Maxwell na Espanha, Nuevo Poder: passabilidad, inaugurada em fevereiro na La Casa Encendida, em Madri. Nela foi apresentada uma pintura que centralizava o conceito do novo termo, onde uma grande quantidade de pessoas e situações, ao serem cruzadas em um fundo puramente branco, remetiam diretamente a uma vernissage. Por isso, sua composição se aproximava a de uma pintura Mãe, comuns na origem da série Pardo é Papel. O destaque da pintura era certificado por sua materialidade, sendo ela a primeira obra em papel de grande formato pintada exclusivamente a óleo. Por conta das camadas de tinta sobre o papel, a pintura precisou de reforço em seu sistema de instalação. O peso físico era uma novidade, assim como o peso visual daquela obra que se diferenciava das outras da exposição feitas com materiais mais rudimentares, utilizados pelo artista até aquele momento: polidor de sapatos, tinta de parede látex, o relaxante de cabelo henê, entre outros. 

Pavilhão Maxwell Alexandre

 

No dia primeiro de abril de 2023, Maxwell Alexandre inaugurou seu 1 ̊ Pavilhão, no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. O projeto permite a criação de espaços anexos e paralelos onde o artista dará continuidade à discussão de suas exposições no circuito oficial de arte contemporânea. Com isso, o Pavilhão cria também a chance de sua obra se desenvolver e expandir frente a uma audiência brasileira, já que a atuação institucional de Maxwell se dá majoritariamente no estrangeiro. 

 

A ideia de Maxwell é usar esse espaço para experimentar e apresentar trabalhos frescos ou até mesmo inacabados, duvidosos e frágeis — fugindo, na medida do possível, das burocracias institucionais ou às demandas do mercado de arte, que sempre cobra por objetos de arte perfeitos e imaculados. 

 

O 1º Pavilhão funcionou como uma extensão da exposição Nuevo Poder: passabilidad, que aconteceu em Madri. Para a exibição em território nacional, Maxwell preparou uma ambiciosa instalação composta por mais de 50 retratos pintados a óleo sobre papel pardo. O experimento ocupou, por pouco mais de três meses, um galpão recém-reformado com aproximadamente 1.000 m². Durante esse período, o artista estendeu e aprofundou a discussão sobre passabilidade, estabelecendo um programa que se conectava com a exposição que ainda estava em vigor na Espanha. Os grandes painéis ‘standard’ que dominaram suas exposições anteriores, agora dão lugar para pinturas de menores formatos. Os personagens, que antes eram parte de composições complexas nessas grandes imagens, agora ocupam um lugar de destaque em pinturas que medem 210 x 80 cm. Essas novas medidas sugerem a ideia de corpo ao aproximar a figura retratada da escala humana, fazendo com que os personagens pintados encenem sua presença física na galeria. O novo formato de papel tem propriedades mais estreitas e sua verticalidade intensifica a noção de passarela, corredor, caminhada e desfile.

 

Sobre a inserção do óleo nas pinturas em papel, o artista comenta: “Me parece muito coerente usar o material mais glamuroso da história da arte para criar retratos em passabilidade. O óleo permite resultados visuais mais esplêndidos e vibrantes. A sofisticação da tinta combinada com a elegância dos personagens retratados estabelece o diálogo perfeito para expressar a segurança e a tranquilidade dessas figuras, que se movem com firmeza e consciência pelos espaços expositivos”. Ao isolar os personagens num fundo branco, Maxwell invoca o retrato enquanto um dos gêneros mais utilizados na história da arte para dignificar uma pessoa. 

 

Os retângulos pardos, que em Novo Poder simbolizam a obra de arte, em vez de estarem distribuídos por diversas obras da exposição, agora fazem presença singular ao fundo do galpão, por trás de todas as pinturas, com um enorme painel medindo 560 x 1200 cm. Com isso, a exposição tira o foco do objeto de arte e enfatiza o indivíduo no espaço expositivo, centralizando essa presença num cenário de disputa de poder de imagem. Essa dinâmica se assemelha às vernissages, onde, apesar de ser um evento de celebração e contemplação da arte, o que realmente importa é a congregação das pessoas. Nas vernissages a dinâmica de poder e distinção social é dada a partir de códigos que vão desde as roupas e acessórios, ao jeito de falar e de apreciar a arte, assim como de qual grupo ou roda de conversa você participa. É o jogo glamuroso e vaidoso do mundo da arte, onde o corpo e a presença é mais condutor das interações do que o objeto sagrado que está na moldura ou no pedestal. Desfilar, caminhar seguro em um dia como esse é a afirmação desse Novo Poder que Maxwell reforça por meio do conceito de passabilidade.

Casa SP-Arte. 

 

Em março de 2023, a SP–Arte, uma instituição conhecida por realizar anualmente a maior feira de arte da América Latina, inaugurou a Casa SP–Arte. O novo espaço foi criado com o propósito de atender as galerias e seus artistas, trazendo projetos com uma abordagem diferente em comparação às usuais feiras. Agora, as exposições terão períodos mais longos e estarão focadas em um único projeto por vez. A casa está localizada na Vila Modernista, no bairro dos Jardins, em São Paulo, com o projeto assinado pelo artista e arquiteto Flávio de Carvalho.

a força da assinatura.

 

A Casa SP–Arte é a única entre as 17 da vila que foi inteiramente restaurada em sua versão original. O nome de Flávio de Carvalho e sua assinatura têm sido uma afirmação de grande valor para ativação do novo empreendimento.“O projeto de Flávio é tão comentado, tão reverenciado, que nenhuma exposição que eu tenha visto ali realmente conseguiu ocupar ou ao menos estabelecer um diálogo honesto com o espaço sem competir com a assinatura do renomado arquiteto. Essa é uma dificuldade recorrente de espaços expositivos alternativos que não sejam o cubo branco de uma galeria, asséptico, hermético. Dificilmente uma proposta de exposição que não leva em consideração a arquitetura, a história, e o contexto de um espaço como estes, sobrevive ileso a essa disputa. Normalmente os objetos aparecem alheios ao espaço, e a relação de indiferença entre obra e templo é ruidosa”, comenta Maxwell.

mataram Hélio Oiticica.

 

A exposição Hélio Oiticica: mundo–labirinto inaugurou a Casa SP-Arte, em março de 2023. Consciente disso, Maxwell considerou profundamente a passagem desse nome pela casa, junto à influência de Flávio de Carvalho, ao elaborar uma proposta de ocupação para sua exposição que aconteceria em seguida. 

 

É curioso observar que os três artistas multidisciplinares, seja por meio da arquitetura, pintura ou indumentária, têm como parte central de sua prática convidar o público para o centro da discussão de suas obras. Esse convite transcende as questões interpretativas e intelectuais, abrangendo também o corpo e estabelecendo novos fluxos para além do papel de mero espectador.

 

“Pelo que eu conheço de Hélio, ele foi um tremendo experimentador, assim como Flávio se prestou a ser. Fico imaginando Hélio entrando nessa última exposição e vendo suas obras dispostas daquela maneira, uma exposição morta, onde os objetos de arte parecem mais múmias daquilo que antes eram propostas vivas. A exposição mata Hélio mais uma vez. Não comento dessa forma para afetar pessoalmente ou culpabilizar qualquer plano de curadoria e expografia, mas fica evidente para mim que exposições burocráticas com obras de artistas tão importantes são blasfêmia. E só atesta a voracidade do mercado turvo e secundário de arte. Nisso, a potência de um diálogo honesto e possível entre Hélio e Flávio se perde. Eu quero que minha exposição, de alguma maneira, ative aquele espaço, e faça valer os esforços de ruptura, transgressividade e experimentação da memória desses artistas”, aponta Maxwell.

brasilidade, a herança dos becos, da encruzilhada e da igreja do reino da arte

 

Em sua nova exposição realizada em parceria entre a Casa SP–Arte e a galeria Millan, que agora representa comercialmente Maxwell Alexandre, o artista busca estabelecer um diálogo consciente com os personagens que marcaram aquele lugar — Hélio Oiticica e Flávio de Carvalho. No entanto, o objetivo de Maxwell é ocupar a Casa sem permitir que sua própria assinatura seja anulada pela arquitetura de Flávio.

 

O improviso e a gambiarra são um marcador forte no fazer dos brasileiros, e Maxwell não conseguiu fugir disso. Com seus papéis pardo, foi construindo paredes cenográficas, recortando e remendando o papel com fita adesiva. Dessa maneira, o artista reconfigurou grandes salões dentro de instituições de prestígio pelo mundo. Suas instalações com papéis mudaram o fluxo do público dentro de galerias em museus e centro culturais, à medida em que fechou passagens, abriu outras, criou corredores, salas dentro de salas, mimetizando o cubo branco dentro do próprio cubo branco. 

 

A crítica contundente de Maxwell à exposição de Hélio que precedeu a sua na Casa SP–Arte é quase injusta, posto que a tarefa de desenhar uma boa exposição é realmente difícil. Mas, no caso de Maxwell, sua semântica estabelecida com os papéis — quer dizer, um material leve, maleável e barato —, se tornou um facilitador para essa tarefa específica. As características do papel e suas possibilidades permitiu reelaborar o espaço expositivo, não importando qual fosse o templo: cubo branco, casa ou igreja. Com esse material e sua engenharia, a instalação consegue neutralizar ou se valorizar com a arquitetura do lugar. Os papéis pardos dão chance ao artista de reassinar ou no mínimo gerar uma espécie de coautoria ao projeto de Flávio de Carvalho durante o período da exposição. 

 

Essa característica distintiva do trabalho de Maxwell não é arbitrária, mas, sim, influenciada por sua origem. O artista nasceu e cresceu na Rocinha e foi patinador de street profissional, atividade que, segundo o crítico Fernando Cocchiarale, moldou sua percepção de espaço — “com rodas sob os pés, o corpo do patinador, veículo veloz de circulação diária, despertou a curiosidade poética do artista, mais especificamente para o vertiginoso fluxo de imagens por meio do qual, durante uma década, viu deslizar a cidade do Rio de Janeiro. São dos anos finais dessa época suas primeiras pinturas de grafismos sobre muros e equipamentos urbanos, fluidas e gestuais, quase tão ágeis quanto seus patins”, afirma o crítico.

 

Membro co-fundador da A Noiva - Igreja do Reino da Arte, Maxwell participou e participa ativamente em cultos e liturgias organizados em casas nas favelas e apartamentos na zona sul da cidade, onde é comum instalar objetos de arte para o ritual determinado, assim como precisou carregar e exibir seus objetos durante procissões e oferendas pelas ruas. É certo afirmar que essas práticas, tanto no esporte quanto na religião, ajudaram o artista a lidar com espaços difíceis de se fazer operar um objeto de arte. Soma-se a isso mais dois fatores: o primeiro é a formação do artista em Design com especificação em Comunicação Visual, passando pela especialidade de Maxwell a noção de espaço e suas articulações, seja na pintura, na fotografia, no vídeo, na diagramação ou na ambientação. O segundo fator se dá com a representação do artista, em 2018, pela galeria A Gentil Carioca — relação que durou os cinco primeiros anos da carreira profissional do artista. A galeria tem sua sede principal num edifício histórico tombado, numa encruzilhada no centro da cidade do Rio de Janeiro. O espaço tem suas características bastante distantes da ideia de cubo branco tradicional, tendo pouca neutralidade. Há muitas janelas, com luz natural, um espaço para piscina, uma parede irregular feita de pedras, além de ser dividida por andares com pisos de madeira. Escadas, declínios, uma claraboia e parte da cobertura feita de telhas antigas também ajudam a construir a composição e identidade do espaço. Foi nesse ambiente que Maxwell foi iniciado ao circuito de arte contemporânea, com sua primeira exposição individual, intitulada O Batismo de Maxwell Alexandre, na qual o artista ocupou com excelência os espaços da galeria com pinturas em telas monumentais, portas, janelas e esquadrias de ferro e madeira, além de uma sala toda revestida em papel pardo, com objetos domésticos, desenhos, brinquedos, alimentos, fotografias, tanque bastimal, etc. 

moda, um interesse comum

 

O interesse de Flávio de Carvalho por moda é marcado por suas ilustrações e artigos para jornais. Além disso, o artista desenhou e produziu um traje de verão que ele mesmo vestiu e chamou de New Look. O traje tropical masculino, em resumo, consistia em uma saia e uma blusa de manga curta folgada. Uma de suas ações mais célebres foi o que chamou de Experiência Número 2. Nessa ocasião, Flávio usou um boné que trouxe da época em que estudou na Inglaterra e deliberadamente caminhou contra o fluxo de uma procissão de Corpus Christi, o artista gerou polêmica e foi hostilizado.

 

Maxwell Alexandre começou a pensar moda a partir de sua imersão na cultura do Patins Street, que era muito influente nos Estados Unidos, Inglaterra, França e Espanha. Inspirado pelos vídeos do patinador Alex Broskow, o estilo e comportamento de Maxwell se tornaram distintos em relação às tendências da época no seu ciclo de convivência no Brasil. Mais tarde, ao ingressar no curso de Design, Maxwell considerou seguir o caminho na moda, mas, eventualmente, optou por se concentrar em Comunicação Visual, já que era um campo mais amplo e alinhado com seus interesses gerais. No entanto, essa escolha não o impediu de adicionar disciplinas específicas de Moda à sua grade curricular, além de frequentar regularmente o laboratório de Moda da faculdade. Foi nesse laboratório que começou a costurar seus primeiros suportes para as primeiras pinturas abstratas feitas com manobras de Patins. Transitando por esse ambiente, ele também começou a colecionar os primeiros fragmentos de papel pardo, atraído pelas suas formas e principalmente anotações, linhas, rabiscos e medidas de roupas que os alunos faziam nesses papéis, comumente usados para fazer modelagem de camisetas, saias, vestidos etc.

 

A exposição na Casa SP–Arte não marca o primeiro encontro desse interesse compartilhado entre Maxwell e Flávio. Em 2022, Maxwell foi convidado pelas curadoras Pollyanna Quintela e Kiki Mazzucchelli para participar da exposição Flávio de Carvalho Experimental no Sesc Pompeia. Nessa ocasião, apresentou um painel onde a moda, especificamente o desfile na passarela, era o tema central. O painel de 480 x 240 cm sem título faz parte da série Pardo é Papel: primeiro contato. Originalmente, a obra foi criada em 2020, para a exposição de mesmo título que aconteceu no MACAAL - Museu de Arte Contemporânea Africana, em Marrakech.

o maior de todos. 

 

Para Maxwell Alexandre, Arthur Bispo do Rosário é o artista supremo. É por isso que frequentemente encontramos representações de obras de Bispo em suas pinturas, especialmente na série Novo Poder. Isso ocorre porque a série, que lida especificamente com o circuito de arte contemporânea, oferece a Maxwell um espaço conceitual para mencionar obras icônicas, como fez com as Gazing Ball de Jeff Koons, os aquários de Damien Hirst e até as Water Lilies de Monet no Museu de l'Orangerie. A aproximação de Bispo com esses nomes que alcançaram grande sucesso em vida e construíram suas carreiras intimamente relacionadas ao mercado de arte, cria um efeito crítico que Maxwell deliberadamente destaca para questionar mais uma vez os valores desse circuito.

 

Embora o artista busque estabelecer um diálogo com Flávio e Hélio na nova exposição, ele elege Arthur Bispo do Rosário como sua principal referência, incorporando uma obra de Bispo em uma de suas pinturas e tornando-a peça central de sua exposição: a faixa Miss Brasil.

 

A obra criada por Bispo do Rosário faz referência ao concurso nacional de Miss, o mais tradicional concurso de beleza do Brasil, realizado anualmente para eleger a representante nacional da beleza feminina brasileira entre as representantes de cada estado do país. A faixa, nesse contexto, carrega vários significados e costuma servir como um distintivo de prestígio, como, por exemplo, a faixa presidencial, que é um símbolo institucional oficial e uma das posições mais prestigiadas do país. Dessa forma, é possível estabelecer uma ligação com a simbologia da faixa Miss Brasil, que, quando usada pela pessoa eleita, confere a ela um status que corresponde ao padrão de beleza nacional a ser exportado para o mundo.

Novo Poder: passabilidade, Miss Brasil

 

Flávio de Carvalho, Hélio Oiticica e Arthur Bispo do Rosário são três artistas que vestiram suas obras e contribuíram para uma afirmação marcante da identidade brasileira em suas linguagens. A influência desses autores foi um ponto crucial para a criação e determinação das obras de Maxwell Alexandre em sua exposição na Casa SP-Arte.

 

Os Parangolés de Hélio, concebidos para serem não apenas vestidos, mas também dançados e ativados pelo movimento, assim como o New Look de Flávio, permitem uma honesta comparação entre o trabalho desses artistas e a criação de estilistas profissionais do mundo da moda. Bispo, embora tenha recusado ser rotulado como artista, uma distinção que o público e a crítica amplamente lhe conferiram, também oferece a essa altura, algum tipo de leitura para que se possa estabelecer relações entre a arte e a moda por meio de seus famosos mantos e outras peças confeccionadas com bordados e costura.
 

Se no estágio inicial de passabilidade, a ênfase estava na ideia de personagens negros, belos e elegantes, caminhando com tranquilidade e segurança pelos espaços de galerias e museus; em Miss Brasil, essas figuras transcendem esse conforto e firmeza para adotar uma postura mais debochada e mundana, da ‘lacração’. Essas figuras já se sentem tão familiarizadas com o ambiente da galeria e do museu que suas vestimentas são mais do que meros trajes pensados para vernissages ou festas de celebração da arte; elas são alegóricas, lembrando fantasias associadas a brincadeiras e festas populares, como o Carnaval, o folclore, a Folia de Reis e o Bate-Bola.

 

Para esse novo recorte, Maxwell também pinta personagens em situações mais corriqueiras, como a tia preta de saia florida que vai fazer compras no mercado, policiais fardados e estudantes uniformizados, fazendo com que esses trajes do dia a dia - seja da instituição pública do estado ou da dona de casa -, fiquem no meio do caminho entre o que é realidade e fantasia, o que é não pertencer ou pertencer excessivamente. 

 

Miss Brasil representa a ênfase máxima do enaltecimento do negro dentro do contexto elitista e excludente da arte. As obras de Flávio, Hélio e, principalmente, de Bispo do Rosário, refletem as vestimentas dos personagens construídos para esta exposição. Elas proclamam que tudo o que é belo e valioso neste país está intrinsecamente relacionado com o corpo melanizado. A identidade cultural brasileira e seus avanços pertencem aos afro-brasileiros. Em Novo Poder: passabilidade, Miss Brasil, a autoestima de pessoas periféricas torna-se a nova cara da arte, da moda e do Brasil, não mais pela exploração, mas pela sensibilidade, beleza e subjetividade.

Galeria

 

As pinturas de grande formato abriram novas possibilidades na abordagem de Maxwell em relação à expografia, desafiando a estrutura convencional do espaço expositivo. Por estarem suspensas, ao invés de presas nas paredes, faz com que ao serem instaladas no meio da galeria, tenham seu verso revelado. Com isso, a estrutura de fitas adesivas que juntam os papéis, ficam aparentes, dando a chance ao público de perceber por detrás de um trabalho, uma mancha da pintura oficial contida na frente da obra, mas que atravessou o papel. Isso acontece também com a luz do ambiente que perpassa as folhas, revelando sua translucidez. É possível, a partir disso, perceber rasgos, remendos e amassados. Todas essas características são parte da semântica da obra. A fragilidade do material é potentemente poética quando se pensa nas narrativas pintadas sobre esse suporte. As grandes folhas se movimentam sutilmente no espaço e esse movimento se intensifica à medida que o fluxo de pessoas aumenta e atravessam as salas passando pelas obras. É como se o trabalho estivesse vivo, e esse tipo de expografia nos fizesse compreender que a exposição não se trata apenas de pintura, é também sobre som, ar, fluxo, encenação, arquitetura, circulação.

 

Ao analisar a origem da série Novo Poder, é complexo determinar o papel que essa abordagem desempenhou em sua criação. A tríade cromática de preto, pardo e branco na série desempenha papéis distintos. O branco, acima de tudo, representa o próprio espaço expositivo e, ao dividir o ambiente com folhas de papel pardo pintadas de branco, esses suportes assumem uma função cenográfica, mimetizando as paredes do próprio ambiente em que estão inseridos.

 

É a partir desse desejo de teatralizar a série que Maxwell dá um passo adiante na exposição Novo Poder: passabilidade, Miss Brasil na Casa SP–Arte, com a instalação que ele chama de Galeria 1. Com o formato que remete mais literalmente a um cubo branco, a entrada na frente conduz o visitante a um interior onde as outras folhas, cruas, sem nenhuma tinta, revelam a tonalidade amarelada do papel pardo, que na semântica da série representa a manifestação do objeto de arte. Funcionando como uma espécie de eixo central para a exposição, essa instalação pode ser a representação mais concisa e didática sobre esse papel simbólico do branco e do pardo dentro da série Novo Poder.

 

A Galeria 1 inaugura uma nova série dentro de Novo Poder, onde esses espaços expositivos encenados são edificados. A obra aponta para o interesse de Maxwell em espaços próprios construídos dentro do circuito de arte, assim como fez com seu próprio Pavilhão que carrega seu nome. Espaços expositivos são templos de afirmação de poder, já que nessas arenas criam-se a chance de manipular e determinar, em certa medida, o comportamento de um público a partir do programa estabelecido para aquele ambiente e ocasião. Seja a partir da expografia, crítica e curadoria de como e o quê vai ser exibido no espaço.

 

A ideia de série Galeria nasce também da observação de Maxwell aos espaços do MoMA - Museu de Arte Moderna, Nova Iorque - , que carrega nomes de colecionadores em qualquer corredor. Para o artista, isso representa claramente o capital simbólico e a ostentação de poder que são criados para distinguir e dar prestígio a uma casta social. É quase cômico, mas ao mesmo tempo revela de forma explícita e exagerada o jogo de vaidades que permeia o circuito de arte. “Eu lembro que, quando cheguei no MoMA pela primeira vez, fiquei muito surpreso e chocado ao encontrar nomes de pessoas e famílias em todo o ambiente. Todo mundo tinha uma galeria ou um espaço no museu, só faltava lotear as privadas, os banheiros", comenta o artista.

Penetrável PN1 e Galeria 1

 

A Galeria 1 estabelece um diálogo implícito com a exposição anterior de Hélio Oiticica na Casa SP–Arte. O Penetrável PN 1, de Oiticica, feito com cores amareladas muito semelhantes à tonalidade do papel pardo, e que ocupou exatamente o mesmo espaço, agora encontra sua ressonância na obra de Maxwell Alexandre. Ao adentrar a Galeria 1 de Maxwell, a cor bate no corpo, da mesma forma que acontece em Oiticica. 

 

A relação entre os dois trabalhos fortalece o argumento de brasilidade presente nas novas pinturas figurativas da exposição. Essa conexão é importante não só por se tratar de um artista de nacionalidade brasileira, mas por Helio ter explorado a brasilidade como poucos outros. Assim, a Galeria 1 ao mesmo tempo que exerce um papel sintético sobre questões específicas de Novo Poder, aponta, sutilmente, para a riqueza da arte brasileira e para sua participação na contínua evolução da identidade cultural do país.

 

A Galeria 1 foi projetada especificamente para a Casa SP–Arte e sua arquitetura. A obra é vista assim que você entra na Casa, e se edifica por todo o pé direito do espaço. Interligado por uma escada, do primeiro ao segundo piso, tem um mezanino que possibilita contemplar a galeria do alto. 

Café

 

No segundo andar da Casa, Maxwell instalou um díptico de molduras douradas, na rotunda da arquitetura. As obras estão justapostas e acompanham a curva das paredes, do início da sala até os limites da janela centralizada – a única que Maxwell não cobriu com os suportes de papel, permitindo a entrada de uma luz natural que banha as molduras, ascendendo o brilho da tinta dourada. A última sala da exposição, ainda no mesmo andar, é ocupada unicamente por outra moldura dourada. Nos dois trabalhos, é possível identificar os materiais rudimentares usados por Maxwell em suas pinturas antigas, como a tinta látex de parede, o carvão e o betume.

 

As molduras douradas e sua tonalidade luxuosa assumem um papel complementar na paleta de cores fundamentais da série Novo Poder. Ao adornar uma pintura, essas molduras elevam o caráter de importância máxima conferido às obras de arte. Essa relação transcendente entre a moldura e a pintura assemelha-se à influência que as joias podem exercer sobre um corpo, conferindo status e relevância a uma pessoa.

 

Em uma perspectiva primordial, esse valor simbólico que o dourado atribui a um quadro remete, por analogia, à valorização do ouro enquanto metal precioso. No entanto, por outro lado, essa mesma relação lógica entre o dourado e o ouro carrega consigo uma significativa história de exploração.

 

A moldura da última sala tem como adorno central o símbolo do município do Rio de Janeiro, composta por uma folhagem, um barco no centro, acompanhado de duas criaturas marítimas, que na versão mais atualizada da marca da prefeitura, são traduzidos como golfinhos. Já o díptico, intitulado Cafezal, é adornado por uma plantação de café em toda a moldura. Esse adorno específico dessas molduras em Novo Poder: passabilidade, Miss Brasil nos relembra, de maneira sutil, do caráter colonial de certas histórias e torna mais estreita a relação entre o passado e os consagrados espaços de contemplação de arte: os cubos brancos. Relembrar para quem e por quem esses lugares foram originalmente construídos, nos aponta os valores atribuídos a eles e quais legados eles serviram para preservar. Por isso, o desenho do café, um produto acessivel e popular, ao mesmo tempo que contrasta, em seu valor, com a cor dourada, se assemelha ao seu histórico de escravidão. Historicamente, o café desempenhou um papel crucial na economia do país, especialmente durante o período colonial e imperial, tornando-se um dos principais produtos agrícolas que impulsionaram a prosperidade do Brasil. 

 

Ao estabelecer essa relação entre a moldura dourada e o café em uma exposição realizada no território brasileiro, Maxwell acrescenta uma camada histórica ao próprio espaço expositivo, tensionando as estruturas e narrativas que moldaram o cenário cultural do país. Dessa forma, Cafezal nos convida a reconsiderar a origem da distância entre o cubo branco e o corpo preto, sugerindo o motivo pelo qual esses corpos estiveram quase sempre a serviço desses espaços, subjugados e sub-representados.

manual. como usar a casa? como adentrar esses espaços?

 

Ao criar um manual de uso para as casas modernistas da vila, com a pretensão de educar os moradores dali para uma nova sociedade, Flávio de Carvalho demonstra suas especificidades, diretrizes próprias e certezas sobre sua obra. Maxwell Alexandre, com sua série Novo Poder, propõe conceitos que orientam e estimulam pessoas pretas a ocupar novos espaços, com firmeza, e, ao mesmo tempo, traz para a consciência toda hostilidade que esses espaços oferecem. Tal postura, segundo Maxwell, deve emanar de dentro para fora desse corpo subjugado por qualquer sistema de legitimação vigente. Esse fenômeno traz sentido ao termo passabilidade.

 

O manual de uso das casas e a série Novo Poder comportam funções similares. Uma vez que estimula esse movimento de entrada e cria convites para esses corpos visitarem os templos de contemplação de arte, Maxwell se sente também na necessidade de mandar recados que os ajude a atravessar essa barreira. A passabilidade que o artista prega é a de dentro para fora, que começa pelo comportamento, que nega os valores estabelecidos. A autoestima que encoraja esse corpo a desfilar dentro de um lugar que o negou, por entre olhares que julgam e maldizem, vindo de pessoas que adoram sua cultura, mas fetichizam e humilham sua corporeidade, presença e existência. Novo Poder: passabilidade, Miss Brasil é manual, é mapeamento, assim como proposta viva a ser incorporada, nem que seja pelo deboche.

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